ESTUDOS ICONOGRÁFICOS

Esta sub-página tem como objectivo apresentar pequenos excertos de estudos iconográficos, realizados sobre pinturas de temáticas diferentes, assim como colocar algumas questões a fim de suscitar o interesse pela Iconografia e demonstrar quão valiosos são os estudos iconográficos quando se pretende compreender o sentido oculto e mais profundo de uma obra de arte. 

 Respostas, sugestões ou comentários devem ser feitos, por favor, para o seguinte endereço de email:

luis.casimiro357@hotmail.com

 

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ICONOGRAFIA MITOLÓGICA

 Marte e Vénus (1497) - Andrea Mantegna - Paris, Musée du Louvre

 

A pintura «Marte e Vénus» da autoria de Andrea Mantegna (também conhecida como «O Parnaso»), reúne diversas personagens mitológicas fáceis de identificar: Marte, Vénus, Cupido, Vulcano, Mercúrio, Pégaso e Apolo com as nove Musas. Todavia, a associação destas diversas figuras não tem equivalente em toda a Antiguidade. Assim, terá de haver um motivo e um significado profundo que justifique tal associação.  

Associar intencionalmente estas personagens obedece a objetivos que se devem tentar compreender atendendo ao comitente e ao contexto histórico. Para compreender a mensagem mais profunda da pintura é necessário remetê-la, pois, para o seu espaço original e relacioná-la com a sua proprietária, a coleção que possuía e o programa iconográfico de que o quadro fazia parte.

Ao longo dos próximos dias iremos revelando os «segredos» ocultos na pintura e verificar como os estudos iconográficos nos permitem penetrar e alcançar o sentido último da obra de arte que fica muito para além da mera leitura iconográfica... 

 

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NOVO 

 

ICONOGRAFIA CRISTÃ

As representações medievais alusivas ao «Juízo Final» reflectem bem a mentalidade da época relativamente ao que era entendido como o destino último do ser humano, claramente expresso nos «Novíssimos»: Morte; Juízo; Inferno; Paraíso. Os principais elementos da composição, na Iconografia ocidental respeitante ao tema, estavam fixados entre os séculos XIII e XIV sendo provenientes de fontes diversificadas, mas entre as quais se destacam o Evangelho segundo São Mateus assim como o Livro do Apocalipse.

Os trípticos, em particular, estavam mais adaptados ao tema pois proporcionavam uma distribuição mais lógica dos momentos representados: no painel central, no alto, Jesus como Juiz Universal, enquanto no nível inferior se representa a Pesagem das Almas por parte de São Miguel Arcanjo e a Ressurreição dos mortos que são disputados entre os Anjos e os Demónios. Por sua vez, no volante direito do tríptico (à direita de Cristo) os eleitos são levados para o Paraíso, enquanto no outro volante os réprobos são conduzidos ao suplício eterno no Inferno.

Um bom exemplo desta Iconografia do Juízo Final é-nos proporcionada pela pintura de Hans Memling na qual se podem apreciar os diversos elementos da composição alusiva ao tema, muito frequente na Idade Média tanto em edifícios religiosos como civis tais como palácios e tribunais, entre outros.

Há todavia algo invulgar nesta representação como se pode observar nas duas figuras que se seguem: Jesus Cristo apresenta do lado direito da sua cabeça um ramo de açucenas e, do lado oposto, uma espada desembainhada.

Como explicar estes elementos? Qual a sua importância para a mensagem que o pintor e a Igreja querem transmitir aos fiéis? Apenas uma investigação mais aprofundada permitirá obter respostas válidas e coerentes a esta e outras questões pertinentes, o que demonstra bem a necessidade de proceder a estudos iconográficos para a compreensão integral da obra de arte.

Juízo Final (1467-1471) - Hans Memling - Museu Nacional de Gdańsk

 

Juízo Final (1467-1471) - Hans Memling - Pormenor da pintura anterior

 

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ICONOGRAFIA ALEGÓRICA

O Infante Shakespeare é assistido pela Natureza e pelas Paixões 

George Romney (1734-1802) foi um pintor inglês que se destacou sobretudo no domínio do retrato. Mesmo ao representar temas históricos ou alegóricos, as suas pinturas incluíam personagens reais que tomavam parte da composição encarnando certas figuras verdadeiras ou imaginárias.

A história revela que Emma Hart, futura Lady Hamilton, conhecida por ser a amante de Lord Nelson, foi uma personagem inspirou George Romney, imortalizando-a em algumas das suas pinturas. Uma das obras mais intrigantes é uma alegoria inspirada em Shakespeare e que atesta, igualmente, a sua fixação em Emma Hart como sua musa inspiradora, retratada nas figuras do Amor e da Alegria.   

Trata-se da pintura «O infante Shakespeare é assistido pela Natureza e pelas Paixões» (1799) a qual, além de incorporar dois retratos de Emma Hart, inclui diversas personagens misteriosas que ajudam a compreender a essência da obra.

Baseada nesta pintura Benjamin Smith (1754-1833) abriu uma gravura cuja legenda ajuda a identificar as personagens representadas e compreender o sentido da obra que ilustra o universo de sentimentos e emoções contraditórios que podem envolver a figura central de Shakespeare.

"A Natureza é representada com o rosto revelado ao seu filho favorito, que é colocado entre a Alegria e a Tristeza. No lado direito da Natureza estão o Amor, Ódio e o Ciúme; no lado esquerda, a Raiva, a Inveja e o Medo".

Apresentamos, em seguida, a pintura e a gravura referidas, bem como identificação das várias personagens representadas, confirmando, assim, a imaginação e criatividade dos artistas.